domingo, 4 de janeiro de 2009

Pra fazer um samba com beleza ...


Não fique triste: A tristeza tem um papel importante na vida da gente.

Por que todos os contos terminam com "... e viveram felizes para sempre", mas nunca contam como foi exatamente essa parte da história? Porque seria, tenho certeza mais inverossímil do que carruagem virando abóbora ou princípe fazendo rapel nas tranças da moçoila, ninguém, nem nos contos de fada, é feliz pra sempre. Nem poderia
Num de seus livros, Freud cita uma frase de Goethe, um importante escritor alemão: "Nada é mais difícil de suportar que uma sucessão de dias belos. "Mais isso pode ser um exagero." É um exagero, penso eu, já metendo o bedelho, humildemente, na discussão dos dois grandes pensadores. Muito pior que uma sucessão de dias belos é uma sucessão de dias feios. Ou uma sucessão de chicotadas, de boladas na boca do estômago, de chifres do namorado. Mas o que Goethe quis dizer e Freud ressaltar, imagino, é que a felicidade, se for sempre seguida de felicidade perde a graça. Por isso os dias feios, as chicotadas, as boladas na boca do estômago e os chifres do namorado são importantes: Sem o constrate com os momentos de sofrimento, somos incapazes de ter momentos felizes.
Mas ainda, acredito que só é capaz de viver a felicidade quem está aberto a tristeza. É como se a emoção fosse um aparelho de som que tem volume, mas não equalização. Se a gente aumenta os graves, aumenta os agudos juntos. Se formos nos fechando, nos protegendo da dor, das crises, do desconhecido, a gente se machuca menos, mas também vive as partes boas da vida com menos intensidade. Além disso, sofrer é fundamental para crescermos e vermos o verdadeiro tamanho das coisas. Vinicius de Moraes escreveu um samba que diz assim:

"É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza(...)
Senão, não se faz um samba não."

Somos bombardeados com a ilusão de sermos felzes sempre, ou, dito de outra forma, sempre felizes. Seja nas propagandas de margarina, nas revistas de celebridades ou naqueles adesivos tipo "você já sorriu hoje?", há uma idéia de que a melhor vida é a de quem está sempre com um sorriso de orelha a orelha. Bobagem. Sofrer não só é inevitável como fundamental. É nas crises que a gente muda, descobre onde aperta o sapato e invena novos caminhos. Quem sorri o tempo todo ou está usando uma dentaduta três cezes maior que a boca, ou nunca parou para pensar na vida. Sofrer, pensar, chorar e mudar dá trabalho, mas é o preço de nossa autonomia.

Ps: Alguns anos atrás o McDonals's usou a música de Vinícius de Moraes em um de seus comerciais. Curiosamente, omitiu a segunda estrofe. Por que será?

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