sábado, 18 de setembro de 2010

Presente de Deus




Hoje, aos 21 anos, olho e vejo, por um lado, que roubei parcela significativa da vida de uma pessoa. Por outro, vivemos momentos especiais e que nos fizeram tão unidas, tão unidas, mas tão unidas, que não consigo mensurar nem em pensamento o que seria a nossa desunião. Não fui educada e/ou alfabetizada para esta sensação. Todavia, quando vejo aquela mulher que poderia ser tudo, ser livre, ser mais por si do que pelos outros (filhos), preocupar-se com coisas que pudessem ser importantes para ela somente, ser mais mulher, mais vaidosa, mais festiva e mais independente do que já é, sinto o tamanho de meu peso.

Ficamos adultos e, consequentemente, a consciência também. Sentir o amadurecimento é uma sensação que nos certifica o aumento da responsabilidade. Amar nossas mães, amamos desde cedo, mas na inocência da infância, na rebeldia e velocidade da adolescência e na complicação de uma transição para a fase adulta, não sobra tempo para observarmos.

Passado os 21 anos, a obrigação bate à porta, embora alguns tentem ignorá-la. Crises existenciais são inevitáveis. Quando começamos a nos perguntar quem somos realmente, o que gostamos de verdade, o que viemos fazer neste mundo e coisas do tipo, quase sempre as respostas, o consolo, a certeza e a segurança estão naqueles que acompanharam a nossa formação, e as mães são as principais.

Há muito, observo o que poderia chamar de psicologia feminina, principalmente, das mulheres mães. Mulheres são complexas, sem nenhum tom pejorativo. A mente feminina é complexa. Lidar com mulheres é complexo. No caso de mães, então, é muita coisa a ser descoberta. Mulheres mães são os seres mais generosos que existem, mas dentro de uma mesma mulher, certamente, há o lado mãe e o lado indivíduo, lado bicho, que anseia, que sonha, que vive e quer mais viver. Ou as mulheres contentam em ter filhos, apenas? Claro que não. E é aí que está a grande questão.

A dedicação é infinita, e a abdicação também. É uma doação que não tem preço. Fico, todavia, a quantificar o lado das perdas. Quanto perde uma mulher que passa a ser mãe? Vale à pena? São curiosidades, são questionamentos que incomodam e que hj me cercam a todo momento.Egoísmo? Não! Apenas Dúvida!

Tenho a sensação,de alguns dias pra cá, que as mulheres são craques em ceder: ceder sonhos, ceder vontades, ceder desejos consumistas, ceder horas e horas de seu tempo, ceder sorrisos, ceder olhares, ceder feições, ceder vaidades, ceder pecados bobos, ceder humor, ceder beijos, ceder trabalho, ceder mão-de-obra, ceder pensamentos, ceder carinho e ceder amor. Doar-se demais deve ter conseqüências sérias para o individualismo, que em doses aceitáveis é extremamente saudável. Faz bem.

Viverei, agora que sou adulta, agora que sou MÃE para ceder-me também. Não para pagar, mas para retribuir um sentimento e uma vida, que foram ofertados a mim, e ofertados da forma mais pura e verdadeira. Sempre vi sinceridade, mas jamais pude deixar de reconhecer o esforço e, automaticamente, questionar o porquê e se havia, mesmo, um prazer em fazer tudo isso. Hoje tenho dentro de mim a mais certeira de todas as respostas. Sim, vale a pena! Se eu conseguisse descrever o quão prazeroso é poder ter esse misto de sensações boas e ao mesmo tempo novas e desconhecidas por mim. Mas não, eu não consigo transmitir, descrever, narrar, explicar nada que chegue perto do sentimento de carregar um ser no meu ventre e poder dizer: Sim! Eu sou mãe!

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